terça-feira, 26 de abril de 2011

Febre, vômitos e viroses, por favor, só se manifestem em nossas crianças até às 22h

Gente, estou muito feliz. A minha querida colega de profissão Gilmara Almeida me enviou este texto para ser publicado aqui no nosso blog. Achei o máximo! Confiram.

Quem tem filho pequeno sabe bem o que é passar horas na fila de uma urgência aguardando para ser atendido enquanto seu pequeno amarga dores, febres e outro sintomas. O Brasil como um todo passa por uma crise no setor pediátrico que envolve desde a falta de estrutura dos hospitais de pronto atendimento à falta de profissional desta especialidade. Esta segunda questão é estatisticamente comprovada com a redução dos estudantes de medicina que optam por fazer especialização na área de pediatria. Menos de 10% dos residentes escolhem esta área tão importante.

Os motivos que levam à queda nos números de residentes em pediatria são principalmente o fato de ser uma especialidade que não dá muito dinheiro. Resume-se basicamente ao atendimento de consultório onde o profissional recebe, no máximo, R$ 150,00 por consulta particular. Os valores de preservação e respeito à vida citados no juramento de formatura são descartáveis quando se analisa as cifras dos primeiros dez anos de formatura e de busca pela solidificação da carreira de médico.

Em Sergipe as estatísticas não são diferentes do que vimos o Fantástico mostrar neste domingo. Falta pediatra no Sistema Único de Saúde, nos planos de saúde mais populares e mais elitizados e falta ainda, nos hospitais privados. Grávida do meu segundo filho, marquei a primeira consulta do bebe que iria nascer em outubro por volta do mês de julho, três meses antes, e amarguei nas filas de urgências com a minha recém nascida com catapora, isso tudo, com o plano de saúde considerado o melhor do estado.

Depois de todas as negociações entre Ministério Público e os Planos de Saúde, nós pais imaginamos que estaríamos mais tranqüilos. Balela! Um plano, que se diz o melhor de Sergipe, vem divulgando que é o único a proporcionar pronto atendimento rápido e de qualidade e com dois pediatras no hospital. Ilusão marqueteira para enganar quem não vai à urgência depois das 22h. Mas a gente não escolhe a hora que um filho vai arder em febre, ou ter outros sintomas que precisam de atendimento imediato. Ao chegar ao Hospital do referido plano na última quarta-feira, às 21h30, fui informada de que só trabalham dois pediatras até às 22h e que um dos médicos já teriam encerrado o atendimento.

Febre alta e evoluindo rapidamente, fomos informados de que teriam quatro crianças na nossa frente. Em seguida, dois casos mais urgentes foram antecipados. Tudo bem, aguardávamos. Preocupados pedimos à enfermeira que medicasse meu bebe para evitar algo mais grave, medicação aplicada e febre continuando a subir, fui informada que ainda tinham cinco pessoas na nossa frente. Sai do controle e as atendentes corrigiram um engano na ordem das fichas, seríamos os próximos... Finalmente no consultório, apesar do desconforto gerado pela reclamação, percebi que estávamos diante de uma profissional qualificada e preocupada em atender muito bem às crianças. Sozinha num plantão de casos de intoxicação, infecção intestinal, viroses e tantas outras coisas que enchiam o corredor, mas ainda assim, todos os pais saiam satisfeitos do consultório.

Conclusão: O plano mais caro do estado é o que paga pior aos médicos e que menos está preocupado em dar atendimento com qualidade. Neste mesmo hospital, há cerca de dez meses ouvi a atendente me dizer que o pediatra plantonista do horário já tinha encerrado seu atendimento quase duas horas antes do prazo final porque ele estava cansado e observando três crianças. E mesmo sendo o pediatra da minha filha, ele se recusou a atender e nos pediu que aguardasse para sermos atendidos pelo próximo plantonista, como se eu estivesse ali pedindo um favor gratuito. Sabe o que ele deve ter pensado na hora, uma consulta a mais ou a menos não vai me dar dinheiro. Ele ganha por plantão e não pela quantidade de crianças que atende.

Na véspera do feriado, eu e outras tantas mães nos deparamos com a mesma situação. Um dos plantonistas antecipou o final de seu atendimento em meia hora. Será que a administradora do Plano não vê isso. Nós pais temos de dar graças a Deus pelos profissionais que mantém o juramento e em respeito pela vida atendem nossos filhos dignamente e atenciosos aos detalhes de ‘viroses’ não identificáveis fazem com que voltemos para casa tranqüilos, seja no atendimento feito em uma urgência ou nos consultórios com hora marcada. Estes são anjos além de médicos.

Em conversa paralela com a médica, enquanto ela examinava minha filha, duas horas depois de assumir sozinha o plantão, ouvi um desabafo lamentável, por vir de uma profissional que me demonstrou total domínio e atenção sobre seu trabalho. “Não vou mais continuar dando plantões para este plano. Prefiro atender num plantão público. Eles querem que a gente trabalhe como máquina, pagam mal e querem resultados. E eu não sei trabalhar assim, sob pressão. Se eles não mudarem esta urgência vai fechar. Nenhum pediatra quer trabalhar assim dessa maneira”.

Sabemos que o Ministério Público tem sido coerente em suas exigências e fiscalizações, mas é preciso observar se os acordos dos planos e as promessas de manter dois pediatras nas urgências vêm sendo cumpridos. Ou será que o acordo foi feito para ter dois pediatras só até 22h. Assim, vamos avisar às febres, aos vômitos e às viroses que, por favor, só se manifestem em nossas crianças até às 21h, depois disso não!

Gilmara Almeida
Jornalista MTB/SE 764
Mãe de dois filhos

Um comentário:

  1. Oiii!
    Cheguei no teu blog através do Recanto das mamães blogueiras. Adorei teu cantinho!!!
    O texto que tua amiga enviou é bem legal. Pena que o atendimento pediátrico seja algo tão ruim no nosso país...
    Já estou te seguindo!!!
    Beijinhosss

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